Silvio Santos morreu aos 93 anos de idade neste sábado (17). Com mais de 60 anos de carreira na televisão, o apresentador carioca estava afastado do trabalho nos palcos desde setembro de 2022. Empresário com atuação em diferentes setores, ele teve como principal marca o SBT, inaugurado em 1981.
Um dos principais nomes da comunicação no Brasil, Silvio ingressou para a televisão em 1960, comandando a atração Vamos Brincar de Forca, na TV Paulista. Em junho de 1963, estreou o Programa Silvio Santos, na mesma emissora. Com variedade de quadros e plateia feminina, a atração também foi exibida na Globo, Record, na extinta Tupi, até que conquistasse a concessão de seu canal.
Casado com a novelista Iris Abravanel, com quem morava em São Paulo, ele deixa seis filhas — Cintia, Silvia, Daniela, Patrícia, Rebeca e Renata –, 14 netos, quatro bisnetos e três irmãos.
INFÂNCIA
Filho dos imigrantes Rebecca e Alberto Abravanel — mãe turca e pai grego –, ele foi registrado como Senor Abravanel após nascer em 12 de dezembro de 1930, no Rio de Janeiro. A mãe reprovou o nome escolhido pelo marido no cartório e passou a chamá-lo, ainda menino, de Silvio.
Primogênito, ele foi criado ao lado dos cinco irmãos — Beatriz, Perla, Sara, Leon e Henrique — no bairro carioca da Lapa, onde levavam uma vida modesta.
Quando completou 11 anos, o maior divertimento dele era frequentar os cinemas Capitólio, Rex, Odeon e Vitória, todos no bairro da Cinelândia. Sua principal companhia era o irmão Leon — apelidado como Léo — com quem tinha maior ligação.
CAMELÔ
Aos 14 anos, Silvio começou a trabalhar como camelô nas ruas do Rio, comercializando capinhas de título de eleitor. O ponto preferido para as vendas ficava entre as esquinas da Avenida Rio Branco e Rua do Ouvidor.
Para diversificar sua oferta de produtos, passou a vender canetas, lâminas de barbear, bonecas, remédios para calos, gravatas e suspensórios. Para atrair fregueses nas ruas, Silvio se arriscava fazendo mágicas para chamar a atenção
Na época, repressão policial aos camelôs era intensa. Com isso, ele vendia os produtos na rua durante apenas 45 minutos por dia — no horário de almoço dos guardas. Os estudos não foram abandonados por Silvio e ele acabou se formando como técnico em contabilidade. Aos 18, cumpriu o serviço militar e foi paraquedista do Exército Brasileiro.
LOCUTOR DE RÁDIO
Com o comércio ambulante, a voz de Silvio chamava a atenção e ele foi incentivado a tentar oportunidades de trabalho nas rádios. No final da década de 1940, ele prestou concurso para locutor da rádio Guanabara e ficou em primeiro lugar, superando nomes como Chico Anysio (1931-2012).
Ao perceber que os concursos poderiam lhe render prêmios em dinheiro, passou a participar de vários e ganhou 12 prêmios consecutivos. Foi nesta fase que o nome Senor Abravanel ficou visado e decidiu adotar o pseudônimo de Silvio Santos.
Ao dar passos na carreira radiofônica, logo percebeu que a atividade comercial era mais rentável financeiramente. Decidiu, então, unir as funções e montou um serviço de alto-falantes numa das barcas Rio-Niterói. Tocava músicas e veiculava anúncios durante o trajeto. Também atuou na barca para Paquetá, vendendo refrigerantes e promovendo um jogo de bingo.
Em 1954, as barcas foram para o estaleiro e Silvio decidiu trocar o Rio de Janeiro por São Paulo. Na capital paulista, abriu o bar Nosso Cantinho e se empregou como locutor da rádio Nacional, fazendo os merchandisings do Programa Manoel da Nóbrega.
CARAVANA DO PERU QUE FALA
Para complementar sua fonte de renda, Silvio organizava uma caravana com artistas, que rodavam a capital e a Grande São Paulo levando shows e animado espetáculos de circo.
O nome da caravana surgiu de um apelido do comunicador. Observando que Silvio ficava vermelho ao falar, Manoel da Nóbrega e Ronald Golias passaram a chamá-lo de Peru que Fala.
BAÚ DA FELICIDADE
No fim da década de 1950, o radialista Manoel da Nóbrega pediu ajuda para Silvio tocar um negócio que estava quase falindo, o Baú da Felicidade — uma empresa de venda de brinquedos a prazo. Com um sistema de carnês, o cliente pagava 12 prestações ao longo do ano e recebia os produtos na época do Natal.
Com dificuldades administrativas e nas entregas das mercadorias, Nóbrega pediu a ajuda de Silvio para resolver a situação antes de fechar a empresa. No entanto, o Baú da Felicidade foi visto como uma possibilidade de faturamento por Silvio Santos, que assumiu o controle total da empresa em 1962, que, mais tarde, seria um dos braços do Grupo Silvio Santos.
ESTREIA NA TELEVISÃO
Apenas dez anos após a chegada da televisão no Brasil — a TV Tupi teve a primeira transmissão em setembro de 1950 –, Silvio Santos estreou no veículo. Ele lançou o programa Vamos Brincar de Forca, exibido pela TV Paulista (futura TV Globo), em junho de 1961.
Paulo de Grammont, na época diretor da TV Paulista, que ofereceu a Silvio Santos a oportunidade de alugar duas horas do início da tarde de domingo para o programa. A atração – que mais tarde se tornaria o Programa Silvio Santos –, fazia propaganda do Baú da Felicidade, que, com o passar dos anos, deixou de oferecer apenas brinquedos, como também eletrodomésticos, carros e casas.
SILVIO SANTOS TRABALHOU NA TV GLOBO
Em 1965, a TV Paulista foi vendida ao Grupo Globo. Nesta fase, Silvio Santos passou a alugar a faixa de horário dominicais na TV Globo, trazendo grande sucesso para a emissora — que ainda não tinha a liderança de audiência.
O Programa Silvio Santos foi sucesso na Globo aos domingos, entre 1965 e 1976. O apresentador chegou a participar da vinheta de fim de ano da emissora ao lado de Chacrinha.
Em 1972, o apresentador quase não teve renovado o contrato de locação de horário. Executivos da emissora queriam sofisticar a programação. Silvio, então, conversou com o empresário Roberto Marinho, que interveio para garantir a permanência dele.
O apresentador tinha conhecimento de que a locação de um horário na grade da TV Globo seria inviabilizada a longo prazo. Com isso, passou a negociar participação acionária em outras emissoras e também mostrou interesse em concorrer a concessões públicas para ter o próprio canal. Em julho de 1976, Silvio deixou a Globo e levou sua atração dominical para a TV Tupi.
INAUGURAÇÃO DO SBT
O SBT, sigla para Sistema Brasileiro de Televisão, surgiu após Silvio Santos vencer uma concorrência pública feita pelo Governo Federal para a criação de duas novas redes de televisão. A emissora foi criada a partir de três concessões cassadas da extinta Rede Tupi — em São Paulo, Porto Alegre e Belém — em 1981. Antes disso, o Grupo Silvio Santos já tinha a concessão do canal 11 do Rio de Janeiro, conhecido como TVS, desde 1976.
A primeira transmissão oficial do SBT foi no dia 19 de agosto de 1981, às 9h30. Na ocasião, foi exibida, ao vivo, a cerimônia de assinatura do contrato de concessão direto de Brasília.
Em 1994, Silvio iniciou a construção do CDT, complexo de estúdios da emissora, localizado na Via Anhanguera, em Osasco, na região metropolitana de São Paulo. O espaço é considerado o maior e mais arrojado empreendimento realizado pelo Grupo Silvio Santos. Na época, foram investidos 120 milhões de reais.
Antes, as instalações da emissora eram espalhadas por cinco bairros da cidade de São Paulo, sendo eles: Vila Guilherme (estúdios principais); Avenida Ataliba Leonel, Carandiru (Teatro Silvio Santos); Sumaré (torre de transmissão e estúdios secundários) e na Via Anhanguera (escritórios administrativos).
REI DA TELEVISÃO
Em críticas televisivas e brincadeiras entre artistas, a sigla SBT foi apontada como “Silvio Brincando de Televisão”, visto que o apresentador procurou imprimir sua imagem nas características da emissora. Mudanças na grade de programação, cancelamento de atraçõs e apostas em talentos estreantes se tornaram marcas de Silvio Santos como dono de emissora.
Entre os programas comandados pelo apresentador, estão sucessos como Show de Calouros, Porta da Esperança, Em Nome do Amor, Show do Milhão, além do reality show Casa dos Artistas e da maratona solidária Teleton.
A alcunha de “rei da TV” inspirou o título da série O Rei da TV, uma ficção baseada em fatos da vida do apresentador, lançada em duas temporadas pela Star+.
GRANDE FAMÍLIA
Mais velho entre os seis filhos de Rebecca e Alberto Abravanel, Silvio tem três irmãos ainda vivos — Perla, Sara e Henrique. Leon morreu em 1992; Beatriz, em 2006.
O apresentador foi casado duas vezes. Da união com Maria Aparecida Vieira Abravanel, a Cidinha, ele deixou duas filhas, a artista plástica Cintia Abravanel e a apresentadora Silvia Abravanel. Como ainda estava no início da carreira na televisão, Silvio mantinha segredo sobre a vida familiar.
“Quando eu me lembro da minha mulher que morreu, e quando eu me lembro que eu dizia que era solteiro… Quando eu me lembro que eu escondia as minhas filhas para poder ser o galã, para poder ser o herói… Quando eu falo com a minha consciência, eu acho que é uma das coisas imperdoáveis que eu fiz, diante da minha imaturidade”, discursou no Programa Silvio Santos de 21 de fevereiro de 1988.
Cidinha morreu em 1977, em decorrência de um câncer. No segundo casamento, com Iris Pássaro Abravanel, Silvio teve outras quatro filhas — Daniela Beyruti, Patrícia Abravanel, Rebeca Abravanel e Renata Abravanel. A caçula nasceu em 1985.
Um ano depois, em 1986, ele se tornou avô pela primeira vez. Ao todo, são 14 netos: Lígia, Tiago Abravanel e Vivian (filhos de Cintia); Luana e Amanda (filhas de Silvia); Gabriel, Manuela e Lucas (filhos de Daniela); Pedro, Jane e Senor (filhos de Patrícia); Benjamin (filho de Rebeca); Nina e André (filhos de Renata).
Completam a grande família de Silvio Santos, os quatro bisnetos — Miguel e Davi (filhos de Lígia); Matheus e Luiza (filhos de Vivian).